Desde o início dos anos 2000, que participo de grupos de miracemenses, inspiração do agora saudoso amigo e ilustre advogado miracemense Carlos Augusto Tostes de Macedo, filho do iluminado Dr. Ururahy de Mattos Macedo.
Carlos Augusto era animado, gostava de reunir miracemenses que moram fora e os que moram na cidade, onde trocávamos ideia, lembranças e ali era um verdadeiro resgate da história da cidade. Doou a biblioteca do pai para o Centro Cultural Melchíades Cardoso, comprou a casa onde viveu seu pai e estava sempre presente na terrinha, reunindo amigos em saraus e serestas. Não perdia as festas de Folias de Reis, que ele amava. Os seresteiros conhecidos eram convidados especiais: Fernando Nascimento, Felicíssimo e tantos outros.
O primeiro grupo de miracemenses era ainda num sistema em que as mensagens eram trocadas através de uma plataforma, que sinalizava a todos os membros por email. Você se tornava membro do grupo numa plataforma, podendo receber as mensagens e enviá-las nesse local, ou por email, que você mesmo cadastrava. Costumo dizer que era grupo por email. A internet proporcionou esse maravilhoso encontro, nessa rede social dinâmica e produtiva.
Na fotografia, que ilustra essa postagem, muitos dos participantes daquele grupo denominado "Miracemenses e Amigos de Miracema". Registro de um primeiro encontro dos membros em Miracema. Tenho memórias excelentes de aprendizado nesse grupo. Eu e o José Souto Tostes éramos talvez os mais jovens membros do grupo, que era aberto à participação de interessados.
Esse grupo intercedeu para evitar o destombamento e demolição da Fiação e Tecelagem São Martino, um dos maiores crimes contra o patrimônio cultural miracemense. Infelizmente, sem sucesso! Buscou resgatar a memória ferroviária de Miracema, pedido feito pessoalmente pelo companheiro Luiz Carlos, que era engenheiro ferroviário aposentado. Além de pedir essa prioridade ao prefeito da época, fez um trabalho interessante de outras formas.
No andar da carruagem, viu-se que havia muita informação histórica da cidade, dos lugares, das famílias e suas relações, que não eram aproveitadas e blá blá blá, surgiu o Logradouros de Miracema, cuja coordenação foi do Luiz Carlos Martins Pinheiro, além de engenheiro era genealogista, e da nossa querida Tia Ricarda Leal Alvim, professora, poetisa, diretora do jornal Liberdade de Expressão, dotada de uma inteligência e sensibilidade incomuns.
Foram cerca de 10 ou 12 volumes, que a partir dos logradouros públicos de Miracema, com a memória de cada membro ou doador externo ao grupo, foram formando capítulos, que além de descrever o lugar, os eventos, priorizava a biografia do patrono e sua genealogia. Assim, capítulo em capítulo construía-se e registrava a história da cidade e daqueles que forjaram seu destino. Um trabalho muito interessante que precisa ser continuado. Trouxe informações que as famílias cederam, uns mais outros menos, promovendo um registro de fatos e coisas que muita gente desconhecia. Apesar de não ter uma edição tradicional, não perde em conteúdo.
Eis-me aqui, envolvida com o sentimento de que as pessoas vão, com elas vão-se muito das histórias, das experiências, do talento e muito fica perdido. Tia Ricarda teve uma vida de construção, na educação, na arte, no Jornal Liberdade de Expressão, na sala de aula, na sua sensibilidade que espalhava amor por onde passava. Luiz Carlos, com seu rigor, organização e experiência em estudos de Genealogia, dava rumo e o rigor da construção diária sob sua coordenação. Assim, sem ambos, Logradouros de Miracema parou... Quem sabe um dia, saia da inércia.
Para quem não conhece, existe na biblioteca do Centro Cultura Melchíades Cardoso.